Degustando a Vida

Degustando a Vida – Julho de 2013

Degustando a Vida - junho de 2013

Esse mês vamos receber milhares de peregrinos que passarão pelas nossas ruas e avenidas em direção à Guaratiba num terreno imenso que está sendo limpo e planado para recebê-los. Confesso que no  mês passado dei uma passada por lá e vi foi muita terra. E se chover, já viu né? E se fizer aquele solão, uma nuvem de poeira vai subir. Mas nosso foco aqui não é esse. Desde que o nosso “hermano” Papa Francisco assumiu o cargo mais alto da Igreja Católica venho adiado meu desejo de falar sobre um assunto que volta e meia me pegava quando ia à missa no domingo, na Paróquia de São Marcos, que fica dentro do Barra Sul, conhecem? Mas, afinal de contas, qual o vinho que o padre bebe?

Dei uma pesquisada e vi que os vinhos servidos nas missas são feitos e distribuídos pela Salton, de Bento Gonçalves, há sete décadas e atende às igrejas de todo o país. A produção média anual ultrapassa as 300 mil garrafas, 80% desse volume são comercializados para as paróquias, de forma individual ou através das Mitras Diocesanas. Os 20% restantes são procurados por consumidores curiosos que apreciam o vinho para acompanhar sobremesas ou mesmo como aperitivo. Ou seja, dá para você ter em casa e vi que custam baratinho , cerca de R$ 12.

A ligação da Salton com a Arquidiocese começou na década de 40 quando um padre espanhol perguntou sobre o vinho da missa e com a negativa de todos os presentes procurou o dono da Salton para fazer um para ele, respeitando as tradições:  o corte de uvas Moscato (50% na composição), Saint Emilion (40%) e Isabel (10%), resulta em um vinho rosado licoroso doce, com graduação alcoólica de 16º GL, comercializado em garrafas de 750ml. O álcool serve para que o vinho seja conservado, já que os padres bebem goles pequenos e o vinho precisa durar. Bom, há relatos também (mas isso é escondido) de casos de alcoolismo entre os padres, ou desenvolveram ao longo dos anos, mas isso é uma outra história. Depois dessa breve explicação, taí, surgiu o vinho Canônico, que é utilizado na maioria das paróquias. O padre Alan, da Paróquia São Marcos, nos revelou informalmente que pode ser até vinho branco, desde que esteja nas especificações recomendadas.

A mais antiga marca comercial para a elaboração do vinho Canônico, que necessita de autorização da Cúria Metropolitana, pertence à Salton e data de 1957. Para a vinícola, dar continuidade a uma tradição iniciada com seus fundadores representa uma ligação entre o passado e o presente da empresa, que chega aos 100 anos como referência de modernidade e alta qualidade de seus produtos.

E o Papa? Ele é argentino, terra de bons vinhos, bons Malbecs e coisa e tal? Vamos ligar para ele e perguntar? Acho que não vou conseguir o telefone nem passar um Whats app pro Pontífice para perguntar isso…

Mas se fôssemos pela lógica, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio deveria seguir suas origens e como membro da  ordem jesuíta, que introduziu o cultivo das videiras no país, ele deveria escolher algo da uva Bonarda, originalmente conhecida como Bonarda piemontese, que já abordamos aqui nesse espaço em meses anteriores. Ela é a segunda variedade tinta mais cultivada e uma das mais tradicionais do país. Antes da invasão da Malbec, era uma uva abundante e destinada a produzir tintos mais simples, de consumo local. A Bonarda tem cor escura, bom corpo e fruta presente e nos exemplares mais simples deve ser consumido jovem. Quando bem tratada desde o cultivo até a vinificação, e envelhecida em barricas de carvalho, mostra potência e maciez. Por aqui encontramos um Zuccardi, no Emporium Santa Therezinha , que fica nas Américas ao lado do Habbib’s e precisa se perguntar por ele ao sommelier da casa porque nem sempre está a mostra, as nossas vistas. Vamos brindar ao Papa, as famílias, a paz e aos bons vinhos? Tim tim.


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