Eu Vi e Fotografei – Julho de 2012

Matérias - julho de 2012

Quem mora na região sabe que  no Canal das Tachas todos os dias, principalmente, em dias de Sol, os nosso ilustres moradores jacarés-de-papo-amarelo descansam na imunda e mal cheirosa água do canal. A cena insólita acontece diariamente na ponte de madeira da rua Professor Hermes de Lima mas este réptil chamou a atenção, já que os seus cerca de 3 metros não foram capazes de intimidar esta pequena ave que passeava. Mães com crianças, e banhistas  paravam para tirar fotos. Viraram atração turística.

O canal liga a Lagoa das Tachas à Lagoa de Marapendi, ambas habitadas pelos répteis. O Parque Ecológico Chico Mendes contabilizou 150 jacarés na Lagoa das Tachas, situada em seus limites, mas desconhece o número de animais da Lagoa de Marapendi, cuja área de 3,7 km² vai do Recreio dos Bandeirantes até a Barra da Tijuca. Segundo a Bióloga Maria Beatriz Ferreira-  a espécie não é agressiva. Mas sustos são inevitáveis. Ainda relatos há pessoas que jogam carne vermelha para eles, mas a dieta deve ser à base de pequenas aves, peixes, libélulas e caramujos, diz a bióloga.

O pedreiro Nilton Santana, de 46 anos, alimenta os animais com restos de peixe que consegue em restaurantes. Com um assovio e chacoalhadas em um saco plástico, ele consegue reunir cinco jacarés em segundos. “Um guarda municipal disse que eu não podia alimentá-los, mas, se não jogo peixes, os jacarés morrem de fome no esgoto.”

O cheiro do canal é fétido. O espelho d?água da Lagoa das Tachas também está coberto por gigogas – plantas que se reproduzem na poluição. A Companhia de Águas e Esgotos do Rio (Cedae) confirma que ambos recebem uma quantidade ainda não calculada do esgoto orgânico do bairro e suas seis favelas. “Saímos de zero e hoje tratamos 1,4 mil litros por segundo. Jacarés e capivaras voltaram até a procriar. Antes de 2014, todo o esgoto será tratado”, diz o presidente da Cedae, Wagner Victer.

Para o biólogo Mário Moscatelli, capivaras e jacarés sobrevivem porque são animais resistentes a ambientes contaminados. “Favelas e condomínios poluem associados à apatia catatônica dos órgãos públicos, que não fiscalizam lançamentos clandestinos.” O presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Luiz Firmino Martins Pereira, confirmou que a Lagoa e o Canal das Tachas nunca foram alvos de blitze e anunciou para os próximos dias a remoção das gigogas e o levantamento dos pontos de despejo de esgoto irregular.

SUPERPOPULAÇÃO

A gestora do Parque Chico Mendes – o único que recebe os animais resgatados em todo o Estado – diz não saber quantos jacarés vivem na Lagoa de Marapendi, para onde muitos migram ou são levados pela água, e nega superpopulação. “Todos os animais encontrados são coletados, marcados com picotes na cauda, pesados e devolvidos (ao ambiente). A população está estável”.

Os moradores não querem a retirada dos jacarés, apontados como atração do bairro, mas pedem a instalação de uma cerca. “O cachorro de um morador já foi comido por um deles”, afirma o universitário Rubens Monteiro. Denise trata de limpar a fama do mascote do parque. “Na verdade, uma jiboia comeu um poodle. O jacaré levou a culpa.” O biólogo Moscatelli confirma que a cerca seria boa, mas para proteger os jacarés. “Nunca encontrei ninguém na região que foi mordido por um jacaré, mas já achei carcaças de jacarés e capivaras – mortos a tiros. Quem corre perigo são os animais.”


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