Essa entrevista surgiu de uma forma inusitada no sub solo do Américas Shopping. Após deixar meu carro para uma lavagem a seco e me dirigir ao cinema para assistir a mais uma ‘Missão Impossível’ com minha filha, que para variar , saltou do carro cantarolando. Eis que um homem se aproxima vestido de Flamengo dos pés a cabeça, mas ao estilo rapper americano, com camiseta e calção largos: __Nossa, como você gosta de dançar! Conhece o Matt Steffanina? Carolina, de 10 anos, diz que não e ele mostra no celular. Quando me deparei, era o ator SANDRO ROCHA, o Major Rocha, de Tropa de Elite 2, ou o Abirão de ‘Os Dez Mandamentos’, novela da TV Record. Simpático e atencioso falou rapidamente da sua agenda lotada e marcamos na semana seguinte. E é lotada mesmo. Ele não para. Além da novela, cuida da casa, dos três filhos, filme e um projeto que guarda com todo carinho e segue a procura de um investidor para produzir um reality voltado para o mundo do futebol que envolve jogadores jovens, CFZ, ex-campeões mundiais e o maior sonho americano, Disney. Bem ao estilo Tropa de Elite: prossiga aspira!
1) Você veio do Lins, quando começou essa relação com o Recreio?
R: Sempre quando vínhamos para a praia, vínhamos para cá. E falava para minha esposa: um dia vamos morar aqui. E era uma realidade muito distante, já que não tinha nem apartamento próprio no Lins. E as coisas foram se encaminhando e hoje estou aqui . Sou apaixonado pelo Recreio.
2) Algum cantinho especial?
R: Gosto de correr na orla, de almoçar aqui no Lokau; tomar um açaí no Balada Mix; do rodizio de sopas do Alpha Belle…Sou muito simples no meu lazer. Sou um cara sem muitas exigências..
3) ..como seus personagens...
R: Por aí.
4) Mas esse olhar firme é que acaba chamando atenção dos diretores que te convidam para personagens maus, vilões?
R: Sou muito confundido pelas minhas personagens, mas poucas pessoas conhecem o SANDRO ROCHA na realidade. Sou bem diferente do que vivi nas telas. Causa até uma estigma com a minha personalidade, porém em todo os lugares que passo e trabalho tenho a oportunidade de reverter o quadro. O ser humano é preconceituoso. A imagem do vilão é muito forte e fica por mais que seja um trabalho.
5) Você acha que é o quê, ninguém te disse que tem cara de mau?
R: Não. Dizem que tenho imagem pesada. Só isso. Eu olho no olho. As pessoas não estão acostumadas a se encararem. Isso é meu.
6)Você adora Orlando, na Flórida, vê semelhanças com o Recreio?
R: Nenhuma. Cara, uma vez minha esposa me disse quando estávamos no fim das férias já retornando ao Brasil, já no avião, eu meio triste, e ela mandou: sabe porque você gosta tanto de Orlando? Por que você é um cara muito justo. E acho que é isso mesmo. Tem problemas como em qualquer país. Só que se você fizer algo errado, você paga. Lá, as pessoas se respeitam, se dão bom dia, tem seu espaço determinado e gostam de trabalhar, produzem. E isso faz diferença. Eu sou workaholic e me identifico com essa histórias de meritocracia. E se a gente colocasse essa engrenagem aqui a gente seria imbatível. E toda vez que vou ao Magic Kingdom, vou no museu do Disney e meio que faço uma oração, muito doido isso.
7) Por que a gente não muda isso?
R: Está enraizado. Tudo corrompido desde a base. Teria que ter um TOLERÂNCIA ZERO assim como foi em Nova York, lembra? Mas não vai acontecer.
8)Vi que gosta de dar dicas de viagem a Orlando na internet, como surgiu isso?
R: Eh, eh .. Cara, eu postava fotos minhas lá fora na rede social e perguntavam como era lá. Aí, eu ia passar 30 e poucos dias e adoro filmagens rápidas, simples. Comecei a fazer sem compromisso de qualidade, meio visceral. Decidi fazer um canal na internet (vempradisneycomigo.com.br) e tem lá as dicas de compras; do leite; do achocolatado; de comprar os ingressos dos parques, enfim, comecei a fazer e já são 48 vídeos. – no site tem um desses dando dicas de compras no Walmart. –
9) Consegue ir 50 vezes a Disney?
R: Consigo 60!(risos).Lembra do programa do Silvio Santos, o ‘Domingo no Parque’? Então, tinha aquela abertura da Disney, aquelas coisas do parque e para mim era um sonho muito distante. Amigos meus iam e tudo mais, e para mim, isso era lúdico, longe da minha realidade.
10)Te encontrei todo fantasiado de Flamengo no Américas Shopping, você é de ir ao estádio, ficar em torcida, ou depois da fama, vai de camarote?
R: Olha, também vou a camarote. Também gosto do que é bom, mas sou do povo, de frequentar arquibancada , de ficar na Raça. Quem vai ao Maraca, já me viu lá, mas gosto de um 0800 também. Quem não gosta de uma molezinha?
11) Depois de viver o Major Rocha, em Tropa de Elite 2, veio o Abirão, em ’Os Dez Mandamentos’ vê algumas semelhanças, claro, respeitando as épocas?
R: Nada. nenhuma. Mas falar de caráter, no caso do Abirão, numa época em que viviam a guerra da carne é uma maldade com a personagem. Era uma luta para conseguir sobreviver. Tinha que ser sagaz, é mais por aí.
12)Você tem 3 filhos , gosta do universo infantil, já fez teatro infantil?
R: Fiz só uma peça que foi lamantável..o figurino era horrível, a barba caía -era uma peça que falava de Papai Noel – , barriga caía…
13) E foi aí que você foi RONALD McDONALD?
R: Olha, foi umas melhores experiências da minha vida e guardo com muito carinho.
14) É como ser ‘Bozo’?
R: É muito mais. O Ronald tem um trabalho nos hospitais de câncer e nos hospitais públicos, sem cachê. Ele não arrecada dinheiro. Minha área era o Nordeste
Foram coisas muito impactantes. Levar esperança e alegria em momentos de dor, não tem preço. Teve um caso em Minas -fora da minha área de atuação- Cheguei na Casa Ronald e fiz amizade com uma menina, ‘ carequinha ‘, já fazendo quimioterapia e ia fazer dois shows lá e no dia seguinte ela havia morrido. Você dá outro sentido a vida. Qual empresa que se preocupa com os doentes hoje?
15)Mas nem tudo foi tristeza, né? Você já saiu gritando gol vestido de palhaço..
R: Como você sabe disso? Viu na internet, né…Meu produtor era botafoguense e era aquela final com o Vasco em 2001….2 a 2 e eu perguntando o resultado toda hora e ele vai fala: gol do PET!(risos) Saí gritando gol vestido de Ronad McDonald (gargalha). Foi a experiência mais bizarra que passei na minha vida. Gritar mengo vestido de palhaço em Aracaju…
16) Passou alguma saia justa vestido de palhaço?
R: Principalmente o de arriar a meia e puxar o sapato. Quer arrebentar o palhaço , é só arriar a meia. Era muito engraçado. Criança é criança, né?
17) O lado ruim e o lado bom da fama?
R: O bom é você ser reconhecido pelo seu trabalho. Eu não tenho outras pretensões e o lado ruim….eu não lembro.
18) E os paparazzis?
R: Eu não sofro isso. Não tenho perfil Cauã Raymond. Minha vida não tem nenhum atrativo que desperte curiosidades nas pessoas. Talvez quando meu contrato terminar na Record e se eu for para Globo, talvez isso mude porque o bolo publicitário , 90 % tá lá.
19) O Rocha de ‘Tropa de Elite’ foi seu divisor de águas?
R: Com certeza. O Rocha foi a resposta de 17 anos de carreira. Igual ao futebol onde só 5 % conseguem .
20) Já foi ovacionado numa comunidade quando chegou?
: Já, já sim. No Lins, por exemplo, as pessoas vinham. Muitos amigos morreram, muitos da época da minha infância entraram para esse mundo da bandidagem. Eu fiz uma escolha lá trás. Estudei no Pedro II, fui para as artes…
21) Saudades do colégio?
R: As minhas amizades são dessa época. O que vivi em 90/93, aquilo foi a maior experiência! Pena que não é mais o mesmo. Muita greve, 3 meses sem aula. Cheguei até tirar minha filha por causa disso. Ainda mais porque nos mudamos pra cá e ficou inviável.
22) As frases do Rocha eram suas mesmo?
R: A maioria, mesmo porque o processo ali era de improviso, sem roteiro estipulado. Mergulhando ali na personagem, as frases surgem e o fato de eu ter vivido essa sagacidade no Lins, facilitou bastante e as gírias são normais. Você tem na sua veia.
23) Qual a que mais gosta?
R:Quem quer rir tem que fazer rir!!Pegou no Brasil inteiro!E é do Tropa 1.
24) Bom, permissão para terminar?
R: Permissão concedida….(risos)
