Com vocês, Dedé Santana

Matérias - março de 2015

Encontrar o maior ‘escada’ do humor no Brasil não foi tarefa fácil. Cinco colunas não são suficientes para preencher todas as informações sobre a vida e história de Manfred Sant’anna, ou melhor, DEDÉ SANTANA. Nascido e criado no circo, entre altos e baixos, prestes a completar 80 anos, gentilmente nos recebeu antes de entrar em cena com a peça ‘Os Saltimbancos” que fechou temporada no Teatro das Artes mês passado. Muitos não sabem, mas após uma separação conturbada, DEDÉ morou por algum tempo nos Pontões, mais precisamente no Ed. Pedra do Conde a convite do ex-sonoplasta da Xuxa, mais conhecido como “My Boy”. Feliz em estar no palco e relembrando a vida no circo, Dedé está se preparando agora para a remontagem do longa ‘Os Saltimbancos”. Vejam abaixo:
1)Você morou no Pontões, como foi isso?
R: Foi mesmo. Foi na década de 80. E quem começou foi o ‘My Boy’ sonoplasta da Xuxa. Foi o primeiro a comprar lá. Ele chamava todo mundo para comprar. Eu fui um deles.
2) Você vai lá ainda?
R: Eu dei para minha neta e não sei como está tudo não. Passei um tempo difícil lá, pós separação. Sabe , naquela época eu namorei-casei com uma moça muito bonita, a atriz Susana Mattos. Que corpo…Sabe, ela foi capa de Playboy e recebeu uma carta dos Estados Unidos elogiando o corpo que não havia sofrido nenhum retoque na edição.

3)Manfred Sant’anna, porque Dedé?
R: Costumo dizer que tenho cara de baiano, nome alemão e nasci em Niterói. O nome do local era Vaca Braba. Nasci na barraca do circo. A primeira parte era circo e a segunda, chanchada. A peça era “A Cabana do Pai Tomaz’. Minha mãe fazia a escrava e o meu pai o senhor da Fazenda. Ele, bem branco, inglês e, minha mãe índia. Tinha um boneco que entrava no colo dela. E no lado do palco eu ficava num caixote com apenas 3 meses. Um dia minha mãe decidiu me pegar do caixote e usar em cena em vez do boneco, foi minha estreia. E como nessa cena eles usavam um disco com efeitos de choro e eu chorei na hora, meu pai dizia que era minha primeira fala no palco. O circo era pobre e furado, mas a lembrança era do circo mais lindo que eu já vi, porque era da minha família.
4) Mais foi ali que surgiu seu primeiro personagem , o PICOLÉ?
R: Bom, eu sou sobrinho do Colé Santanna que fez tantas chanchadas com Oscarito e Grande Otelo. Depois quando fiquei maiorzinho, ele ficou COLÉ, e eu, Picolé.
5) Seus laços com o circo são tão grandes que você montou um em São Gonçalo não foi?
R: Nos meus 50 anos de carreira, eu chamei um primo meu e decidi montar lá o circo. Armava e desmontava as lonas. Eu tinha que passar por isso de novo. As pessoas perderam o interesse um pouco, talvez.
6) Mas você vai receber uma homenagem não vai?
R: Isso mesmo. O pessoal de Brasília quer que eu seja o embaixador do Circo no Brasil. Fiquei muito honrado.
7) Mas quem é que te chama de Manfred? Dedé santanna é como o Pelé para o Edson Arantes do Nascimento não?
R: (pensativo)Olha, talvez uma tia minha me chamasse …mas até minha mãe depois de um certo tempo era Dedé mesmo. (risos).
8) Mas você com essa cara de índio e nome de alemão…
R: Mas engraçado que eu digo que tenho sangue alemão por causa de amigo intimo do meu pai que doou sangue para minha mãe no meu parto. Ela teve problemas e precisou de transfusão de sangue. E foi ele, o amigo do meu pais ajudou.
9) 8 filhos e 8 netos…O Romário seguiu seus ensinamentos?
R: Sabe , uma vez uma repórter foi taxativa nisso. “Seu Dedé, 8 filhos, o senhor deve gostar muito de criança não é mesmo?” Eu respondi que sim e que gostava ainda mais era das minhas mulheres. Sempre fui brabo né?(risos)
10) Um deles é falecido, o Maurício não é?
R: Isso, faz muito tempo. Sabe que dei o nome dele em homenagem ao primeiro cowboy brasileiro Maurício Corei que era muito meu amigo?

11) Vem cá, seu aniversário é 9 de Maio ou 29 de abril?
R: Eu nasci em 29 de abril, mas fui registrado dia 9 de Maio. Eu comemoro em abril
mas fui registrado dia 9 de Maio. Eu comemoro em abril
12)Isso já deu problemas?
R: Alguns. Uma vez perdi todos os meus pontos do programa smiles, pontos acumulados em 4 anos. Foi muito chato.
13)As tragédias sempre estiveram próximas a você como as perdas dos amigos , filho e seu pai, né?
R: As dos meus amigos Zacarias e o Mussum, mexeram muito comigo, mais ainda o Mussum. E o meu pai também. Mas a paulada na minha cabeça, foi a morte do meu irmão Dino Santana que trabalhou em quase todos os filmes e programas nossos. Achei que não ia segurar. Tínhamos passado uma coisa parecida. Em Santos, o nosso circo estava ferrado. Meu pai disse para comprar tudo fiado e dar a volta por cima. Isso para pagar depois da estreia. Pintamos e deixamos tudo novo. No dia da estreia , meu pai foi buscar uma lata de tinta e foi atravessar a rua e morreu atropelado. Velamos ele nos fundos e fomos para o espetáculo. Depois o enterramos. Foi muito duro. A gente tinha que ter dinheiro para pagar as contas e enterrar meu pai. Muito difícil esse momento e ver esse espetáculo aqui me faz lembrar muito essa época.
14) E tem planos para outra peça?
R: Olha, aquele filme que fizemos com a Xuxa(Mágico de Oroz) foi muito premiado e sempre tive vontade de colocar no teatro.
15) Você acha que ela faria?
R: Acho que sim, sempre foi muito parceira.

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16)Piada boa não envelhece não?
R: Chico Anysio sempre disse que não existe piada ruim, existe piada mal contada.

17) Se você tivesse o poder de voltar no tempo o que faria de diferente?
R: Teria guardado dinheiro ou ser mais conservador, coisa que o Renato fez muito bem. Fui muito babaca com a fama e quando tive grana.

18) Como surgiu a parceria com O Renato?

R: Eu era o primeiro ator do Teatro Recreio. O Arnauld Rodrigues que me apresentou ao Renato e eu de ator principal. Eu vi um script dele e eu falei que o dia que ele atuasse tudo aquilo que ele escrevia ele faria o maior sucesso. Eu falei, como vinha do circo cresci com o ensinamento de que teria que trabalhar sempre para o palhaço. E ele era muito mais engraçado do que eu. Ele retrucou mais entendeu. Estamos até hoje.

19) Vi que você ri dele no palco , isso é real?
R: Aquelas caras que ele faz me fazem rir até hoje, ele é um sacana..

20) Você está prestes a completar 80 anos e está super em forma, como e explica essa vitalidade?
R: Sei la…(risos) Sabe que ando com vontade de dar um mortal de novo em cena?

21) Jura, tem coragem?
R: Porque não? Quando retornei a Globo num Criança
Esperança eu dei, pode buscar lá no google. Eu nem tinha combinado com ele. Quando cheguei para os agradecimentos eu fiz o sinal para ele fazer o portô e ele se assustou. Eu fiz o sinal de novo

nal de novo e pumba, dei o mortal. Ele ficou com os olhos esbugalhados. (risos).
22) Mais uma do Circo não?

R:Eu fui portô do trapézio. Fazia o elo nas acrobacias. Costumo dizer que o meu grande portô , o meu grande aparador foi o Renato.
23) Algum sonho não realizado?
R: Meu grande sonho na vida era ter feito um filme com o ator mexicano Cantinflas. Marcamos um almoço nos Estados Unidos e ele não foi porque estava doente. Chegou a mandar uma arranjo de flores com frutas lamentando a ausência. Logo depois, faleceu. Ele ia tentar fazer um filme com a gente. Fiquei muito triste. Uma vez o Charles Chaplin já no fim de sua vida disse que o cara mais engraçado que ele já tinha visto era o Catinflas. Teve até um filme recente com um ator espanhol falando da vida dele , você viu?
24) Quais as vantagens e desvantagens de se viver tanto?
R: Olha, perder as pessoas que você ama definitivamente é um golpe no nosso coração. E a vantagem maior e ver a vida passar. É fantástica a evolução.


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