Mestre dos bordões, Paulo Silvino, lança ‘Papaceta’

Matérias - maio de 2015

Uma tarde agradável ao lado dele. Estar à frente de um dos maiores comediantes do país era motivo de orgulho para esse humilde repórter. Enquanto conversava e entrevistava Paulo Ricardo Campos Silvino, 75 anos, os bordões dele ecoavam em minha cabeça como se fossem vuvuzelas em um jogo de Copa. Eu perguntava sobre o início da carreira e me vinha a frase de Frei Serapião: “Ai, como era grande!” E depois de perguntar sobre o que mais gostava no bairro surgia: “Guenta …ele guenta..”. Não tinha jeito. A criatura era maior que o criador. E era mesmo! Porteiro Severino e tantos outros fizeram desse homem uma piada ambulante. Os olhos esbugalhados se abrem a toda hora e volta e meia ele faz uma vozinha fina para explicar uma situação. No Empório Santa Therezinha onde ele marcou o encontro, as pessoas ao redor ficavam olhando , prestando a atenção naquele vozeirão que ecoava no salão. O ex-crooner de Elvis Presley nos anos 50 e dos clássicos do rock deixou um pouco a música de lado para ser ator e comediante. O Jornal do Recreio falou com o Paulo super-pai, o marido e o maior comediante do Brasil. Eis aqui PAULO SILVINO!
1)Como você vê essa mudança radical do ZORRA depois de tantos anos seguindo o mesmo formato?
R: Acho positivo a tentativa de se repaginar um programa no ar há 15 anos. O difícil é fazer as pessoas assistirem televisão de novo. Nas capitais, tem muita coisa para se fazer, menos ver TV. Agora ser dirigido por duas pessoas que vi crianças é muito gratificante. Tanto o Mauro (diretor do programa) quanto Maurício Farias(Diretor de núcleo)-ambos são filhos de Roberto Farias, diretor de cinema..
02)Você praticamente participou de todos os programas de humor na TV Globo, ‘Faça Humor Não Faça Guerra’, ‘Satiricom’, ‘Planeta dos Homens’, ‘Balança-Mas -não-cai’, ‘Viva o Gordo’ e ‘Brasil Pandeiro’, qual o formato que mais gostou de fazer?
R: Sempre gostei de tudo que fiz. Desde os anos 50, passando pela TV O Canal Zero, Tv Tupi, sempre fiz com carinho minhas coisas. Agora, fiz com muito orgulho 8 programas do Chacrinha quando ele esteve doente no fim da vida dele. Cheguei a falar com ele: “Faz você Chacrinha, tenta!” Mas ele já não conseguia mais porque estava muito cansado. E mais, quando fiz, me pediram para fazer sendo eu mesmo e não imitando o Velho Guerreiro.(no site tem o vídeo)
3)O humor com bordões é datado?
R: Olha, eu gosto de fazer assim, as pessoas pegam rápido. Agora, o mais interessante é como nasce o bordão. Nasce de um caco(texto fora do roteiro) , de uma brincadeira que você faz no set; ou também proposital em casa quando você está escrevendo
04) O Porteiro Severino foi assim?
R: De uma certa forma, sim. Eu sempre digo que antes de Severino, eu fui Paulo Silvino. Mas o Max Nunes escreveu a piada, o quadro. Aí, O Shermann gostou e mandou a gente fazer um roteiro cada um, eu e o Gugu Olimechea, outro roteirista. Eu escrevi o “Alice no País das Maravilhas” que no final, o Severino era uma árvore. Tinha uma hora que o diretor dizia para ele fazer uma árvore aí eu disse: __Isso parece uma bichona com dor na coluna – Todos riram e ficou. Já o Gugu escreveu o ‘armário’, onde o Severino abria e fechava a porta. E tudo começou com o esquete do abajur, onde o Severino puxava a gravata fingindo que estava aceso e apagado. Muito engraçado. Agora quando os quadros começaram a ficar 10 minutos cada, cansava um pouco né?
05)Você ganhou um baita elogio na coluna do ARTHUR DAPIEVE, aonde fala que seu olhar esbugalhado evoca mais sacanagens que 300 volumes do 50 tons de cinza.
R:Olha, nunca fui bonito, apesar dos olhos verdes. Então, passei a compensar essa minha “feiura” sendo engraçado. O baratão, mesmo feio, a barata não gosta dele ?(risos). O Jô Soares toda vez quê me vê pede para eu contar a história do “Homem da Piroga

de Cristal”(no site tem o vídeo).O pessoal do Casseta já foi até Marechal Hermes para me ver no teatro contar a história do “Ogay River”.
06) Dá para viver normalmente sem ter alguém te pedindo para soltar algum bordão como “Ai, como era grande”?
R: Não tem jeito, as pessoas confundem mesmo. Atendo a todos numa boa, mas sou muito introspectivo. Não fico fazendo aquelas caras dos meus personagens, né? Agora, cá entre nós, somos dois milagres da perseverança humana. Ganhamos de 700 milhões de espermatozoides para chegar a vida. Não dá para se achar mais do que o outro, né? Tem atores e atrizes que se acham mais fazer o quê? Eu não!
07 )Você disse que ficar velho é ruim, porque vai enterrando todo mundo. E completa : Não vão no meu, então não vou no de ninguém. Tem medo da morte?

R: Pois é. Quem falava isso era papai, Silvino Neto, um grande cantor. Ele falou isso no enterro do Ataulfo Alves. Mas gosto de viver. O Chico Anysio (fala se emocionando) dizia que dá morte não tinha
medo, só pena. É por aí. O desejo de todo artista é morrer trabalhando, fazendo arte.
A gente quando dorme não está apagado? Não sabe de nada. Quando acorda, renasce. E a morte é mais ou menos assim para mim.
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08) Você está há 12 anos com seu esposa Gisele, portanto pelos meus cálculos, começou o relacionamento com 63!! Então você gosta muuuiito!

R: Ai, que loucura!(em tom de bordão). A história é meio engraçada porque ela era minha vizinha e às vezes nos víamos na piscina do condomínio. E uma vez ela mandou um bilhete “esses olhos verdes”…Aí, eu li aquilo e passei para o Flávio, meu filho. O tempo passou e mandou outros e eu sempre passando para o Flávio. Uma vez deixou um recado com o telefone e uns ursinhos enfeitando. E aí, ele ligou. Ela disse que não era para ele, e sim, para mim! Poxa, uma homem de minha idade , 4 meses separado, e ouvir aquilo, mexeu. Chamei para um sorvete e estamos juntos até hoje.

09) E as ‘Aventuras do Papaceta,’ quando estreia?
R: No segundo semestre no Teatro Carlos Gomes se Deus Quiser! Fiz algumas experiências no interior para fazer uns ajustes e funcionou bem. Mas tem muito palavrão, vou logo avisando para aquela senhorinhas não ficar reclamando: ”Ai, que absurdo, que loucura, que homem desbocado!”(fazendo voz de senhora )
10) E como é?
R: É um pirata lendo um livro de histórias picantes do século XVII , só que falando de 100 anos antes. Isso para divertir a tripulação em tempos de calmaria.
11) E você como Botafoguense, tem acompanhado ?
R: Não vou mais a estádio não, mas tenho acompanhado e sofrendo um pouquinho(risos)
12) E a seleção?
R: Olha, os 7 x 1 não chega nem perto da final de 1950. Eu estava com meu pai atrás do gol do Barbosa, no gol do Giggia. Eu tinha 11 anos e nunca mais esqueci aquilo.
13) E que gosta de fazer por aqui?
R: Estamos num local aonde tomo um bom vinho , aqui no Empório, e eu almoço com uma

com minha família com uma certa frequência.

14)Você foi considerado o Elvis Presley brasileiro e nessa época, surgiu DICKSON SAVANA, era porque era moda gravar em inglês? E no coro, os SNAKES- que tinha ERASMO CARLOS !

R: Foi por aí. Eu ainda gravo minhas coisas e não se fazem mais cantores como eu porque a onda agora é outra.

15) Em tempos de policiamento da piada. direitos sociais, discriminação, o seu humor não sofreu nenhum tipo de cerceio.
R: Pois é. Mas acredita que sofri no passado. Na época da ditadura, eu via as mulheres num canto falando baixinho: _”Olha aquele tarado da televisão! E era época de ‘Planeta dos Homens’ e ‘Viva o Gordo’. E tinha a lenda do Frei Serapião, lembra? – Ai como era grande!-


 

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