Ele não dubla em bases regulares há quase 20 anos, mas a sua voz está presente em nosso subconsciente. O ator emprestou sua voz a Daniel Craig(007), Arnold Schwarzenegger, RobinWillians, Patrick Swayze, He Man e até o Pica Pau numa das primeiras fases do desenho. Em cartaz no Teatro Antônio Fagundes na Barra com peça ANOS 80 – UM MUSICAL DE FILHO PARA PAI, Garcia Jr nos recebeu em sua confortável casa no Recreio para falar um pouco dessa profissão que tanto fascina os brasileiros. Recentemente dublou o ator austríaco que faz um presidiário junto com Silvester Stallone(Rota de Fuga) e contou sobre a dificuldade que foi falar alemão no longa. Filho de dubladores, Garcia lembra quando começou a carreira. Confesso que é muito doido e divertido entrevistar uma pessoa e ouvir uma voz tão familiar que só ouvia nas telas de cinema. Ali, não era o Harrison Ford ou o 007, e sim, o ator Garcia JR. E estar com oHe-Man falando palavrão na minha frente, com gírias e vícios de linguagem não tem preço. Considerado pelo meio como um dos maiores dubladores da história, Garcia nos conta um pouco desse universo e da sua decisão de procurar novos horizontes.
1) Por eu você não dubla mais?
R: Dublo, sim. Tanto que fiz os dois últimos filmes do Arnold e do 007, com o Daniel Craig. Só não sou empregado da empresa de dublagem e fico o dia inteiro no estúdio. Eu faço , hoje, aquilo que quero, que me traga prazer. Não por trabalho simplesmente.
2) Como surgiu a dublagem na sua vida?
R: Por acaso. Meus pais eram do meio artístico, do rádio em São Paulo e logo depois, como dubladores. Minha mãe me levava (Dolores Machado) junto com meu pai (Garcia Neto) para os estúdios. Isso desde bebê. Aos 10 anos surgiu uma oportunidade de um teste. O Olney Cazarré, que fazia o corintiano na Escolinha do Professor Raimundo não ia mais fazer o Pica -Pau. Fiz o teste e ganhei o papel. O diretor não queria me dirigir porque eu era criança(ele tinha até razão). Meu pai teve que assumir o cargo e me dirigir. Após uns episódios ele teve um gesto nobre em pedir ao meu pai para pessoalmente me pedir desculpas. Achei lindo esse gesto.Eu já dublava todo dia de brincadeira para passar o tempo enquanto meus pais trabalhavam.
3) Como você vê o mercado de quando começou até os dias de hoje?
R: A técnica é a mesma. O que se tem hoje de equipamento, não tinha antes. Uma coisa acabou compensando a outra. No início da dublagem há 40 anos era por paixão. As pessoas que estavam ali não estavam por dinheiro ou por um trampolim para outras áreas artísticas. O Darcy Pedrosa que fez anos o Jack Palance(Acredite Se Quiser!) dizia que o dublador é a estrela que despontava para o anonimato. Não é ruim nem feio. Se você prestar a atenção na dublagem de um certo filme é porque não tem o valor aquilo ali. O trabalho é esse. Se o Harrison Ford fez o Hans Solo ele não pode fazer o Indiana Jones ? O trabalho é de interpretação e isso é de mentirinha mesmo. Ele não se explodiu numa nave, né? É um mundo de faz de conta.
4)Muitos programas de humor já debocharam de algumas dublagens, inclusive , novelas mexicanas, porque não batiam com a boca , com sincronismo, não é verdade?
R: Não é que seja dublagem antiga. Hoje você vê muita dublagem ruim também. Pega “Jeanie é um Gênio”, “Terra de Gigantes”, “os Flingstones”. Pega e vê se há algo fora de sincronismo ali. Não tem. Tô falando de 58,59. Tem trabalho vagabundo de toda época em qualquer profissão. Assim como tem coisas excelentes. Olha se o cara que tá guiando a Kombi for um deficiente visual, vai todo mundo bater na esquina. Deu para entender? Gente competente existe hoje como existia no passado e o contrário, também. Existem bons e maus trabalhos.
5) Já conversei com outros dubladores e a maioria reclama do mercado, de pessoas que não são atores e da baixa remuneração, como você vê?
R:Eu não estou mais nesse mercado. Durante os 30 anos em eu estive , paguei minhas contas com dignidade, o que me proporcionou a base do que construí. Quem tiver que reclamar, que reclame. É um assunto muito particular.
6) E como você vê atores famosos ganhando cachês altos para dublar filmes infantis?
R: Tem uma insatisfação pela falta de conhecimento por quem deveria conhecer o mercado ou não quer ver dessa maneira e tá afim de chorar e reclamar. A questão não é que o ator famoso é remunerado a mais, e sim, porque envolve uma imagem dele na divulgação do produto. Ele aparecendo, faz com que os pais levem a criança para assistir aquele determinado filme.
7) No caso do ”Enrolados”, o Luciano Huck não é ator , muito menos, cantor. Quem canta é o Rafael Rossato.
R: Mas isso pode acontecer com dublador também. E nunca reclamaram de nada. Meu exemplo foi ao contrário. Em a “Bela e a Fera” fiz o “Gaston” e quem cantava era o Maurício Luz que é um excelente cantor e fui escolhido para fazer o filme porque minha voz parecia com voz do cantor, entendeu? E qual é o problema? Nenhum. Você sabe que me fez lembrar que esse episódio deu um disse-me-disse na época. O Cláudio Galvan(que faz o Pato Donald), que é meu amigo, levou o Rossato na época para fazer o teste. Ele era aluno dele na escola Vamos Fazer Arte, aqui no Recreio ,e ficou muito bom. Ele cantava e dublava! E o Cláudio é um ator muito generoso. E ele foi lá levar o garoto para concorrer com ele! É o que eu digo: as pessoas generosas só acrescentam na vida das outras e todo mundo cresce junto.
8) Já conheceu alguém que dublou?
R: Olha . Tinha uma dupla de atores que trabalhavam com humor da década de 70, “Cheech and Chong”, lembra? Eu estava em Los Angeles mixando um filme e soube que eles estavam na cidade . Fui até ele que me receberam muito bem foi muito divertido.
9) E as novelas mexicanas, você não acha a dublagem ruim?
Não é que sejam ruins, a gente é que não está acostumado com aquele tipo de interpretação, além da fonética ser muito parecida. Se você for para a Itália vai achar que a dublagem lá é ruim e não necessariamente é. O nosso cérebro não está acostumado a ver um italiano com o movimento labial do inglês. O espanhol te faz essa armadilha. E como fica a palavra grávida que significa ” embassada”, em espanhol? Eu fiz umas 3 novelas só para ajudar um amigo meu. Mas era um papel pequeno em “Chiquititas” ou “Carrossel”, não lembro. Aliás, não gosto de novela nenhuma.
10) Quando o locutor Carlos Alberto foi chamado para dublar o Homer Simpson , o Waldyr Santana(o primeiro gravar) chiou porque havia perdido o papel (por causa de uma ação contra a 20th Century FOx) ,e o público reclamou não foi?
R: Eu vejo duas coisas aí. Entendo o lado dele em processar o estúdio, procurar os direitos dele e perfeitamente o lado Carlos Alberto que é fã incondicional dos Simpsons; é fã do Hommer, desde sempre e o Waldir entrou com uma ação, oq ue ele queria? Olha, aprendi uma lição de vida com um dos maiores gênios da dramaturgia, o Plínio Marcos que uma vez foi entrevistado e perguntaram se ele foi muito perseguido. Ele disse que estavam no poder, e ele, era contra. Ele jogava pedra, eles vinham e desciam a borracha. “Eu fiz por merecer”, dizia o Plínio. O que você faz na sua vida tem conseqüência. Aliás, eu levei o Carlos para dublagem na década 80 . Conheci ele fazendo box tailandês na Tijuca. E trabalhamos juntos na FM 105 e Rádio Cidade , em Portugal.
11) Te reconhecem na rua, quando ouvem sua voz?
R: Olha, no elevador é engraçado. A pessoa escuta, finge, coça a perna e dá uma olhada disfarçada para trás. Eu, no telefone ou conversando com alguém, finjo que não é comigo. Aí pessoa deve ficar doida porque a voz que ela conhece, que soa familiar, não condiz com os rosto ali. É bem engraçado.
12) E a peça, como surgiu?
A Lili (Mareliz Rodrigues), diretora e autora, falou para mim que estava montando uma peça sobre os anos 80. Na mesma hora eu falei, quero fazer. Se vira e me arranja um papel(risos). Faço só uma pequena participação como professor Tales e é uma delícia.
SERVIÇO:ANOS 80 – Um Musical de Filho para Pai
Texto e Direção: Mareliz Rodrigues (Espaço Cultural Vamos Fazer Arte)
Elenco: Roberta Piragibe, Felippe de Santis; Ana Helena Barcellos, Ana Lia Guedes, Carol de Barcelos, Carol Donato, Catherine Beranger, Felipe Izzo, Gabi Guimarães, Juliana Falcão, Larissa Kuboski, Otávio Maciel, Rafael Souza, Roberta Campos, Vicenzo Lucchese.
Temporada até 04 de maio, sábados e domingos, às 19h
Local: Teatro Antonio Fagundes (Colégio CEC) – Av. Ayrton Senna 2.541/A – Barra da Tijuca
Ingressos: R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia)
Telefone: 2432-4000 Gênero: Infanto juvenil
Capacidade: 419 pessoas- Duração: 60 minutos
Bilheteria aberta sábados e domingos a partir das 15:00 horas
Faixa etária: LIVRE
Estacionamento grátis no local (pagamento em dinheiro)
https://www.youtube.com/watch?
1 comentário
Parabéns pela Peça e pelas fotos lindas!!!!!